VIVER POR PRAZER
OU VIVER BEM
(Uma história real)
“Ruyzinho
do pandeiro”tinha sido um jovem alegre.Trazia esse apelido porque tocava
pandeiro muito bem. Via sempre na vida alguma bela poesia e o que mais o
interessava era a alegria que pudesse semear aqui e ali. Bebia muito e nem
sempre comia ou dormia bem. Era um autêntico boêmio, com razoável instrução e bom
gosto. Trabalhador, embora a disciplina não fosse seu forte.
Foi
“menino por muito tempo” até constituir a família que idealizara, com grande
compreensão da companheira amada. Tiveram quatro filhas!
Às
tantas, contraiu uma diabetes e apresentou obstruções coronarianas, que lhe
impuzeram uma cirurgia para colocação de pontes: mamária e de safena. Teria
falecido sem estes cuidados, que gente amiga lhe providenciou. Sobreveio-lhe
ainda grande perda visual e duas tromboses – na primeira, amputaram-lhe um dedo
do pé. Visitado por uma netinha, a mesma quis saber:
-“Vovô,
onde está o seu dedo?” ao que Ruyzinho arriscou, com típico bom humor:
-“Ele
doía, me amolava, eu mandei tirar e guardei no bolso.”
Mas
a menina, muito esperta, meteu logo as mãozinhas nos bolsos do avô e não
localizou o dedo: -“Não está ai, vovô!”
-“Ah,
vai ver que eu perdi lá em Taubaté, quando tocava numa festa muito animada.”
Pouco
adiante, foi preciso amputar-lhe toda aquela perna. E a netinha não deixaria
por menos: -“Vovô, e agora, onde foi parar a sua perna?”
-“Ela
foi pra Taubaté, buscar o dedo que tinha ficado lá. Mas pelo jeito se perdeu e
não voltou.”
-“
E você não está bravo, vovô?”
-“Não,
querida, minha vida vale mais do que uma perna – e esta eu perdi, porque não
tive cuidado, só queria ter prazer, o resto não importava.. Deus é tão bom que
deixa todos nós escolhermos como queremos viver: todos nós temos um livre
arbítrio, esse direito de fazer o
que preferimos. E Ele ainda me deu a chance de continuar vivo, de conviver com você e de te ensinar o
que posso.”
-“Então
eu posso aprender a tocar pandeiro, como você, vovô?”
-“Pode,
se você gosta. Mas precisa aprender a escolher também os jeitos de viver bem,
de fazer o que é preciso e não só o que dá prazer, pra não perder, como eu, uma
parte de seu corpo ou de sua vida!”
Maria Antonieta de Castro Sá.