quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Abrindo caminho"

Tem aquela jovem, que aos dezessete apaixonou-se e foi se apegando mais e mais ao namorado - ele, atraído de início, ao longo de dois anos foi sentindo 'pesada' aquela relação e resolveu dar um tempo - ela viu sua vida devastada...
Também tem o menino, que aos cinco anos foi adotado por um casal de tios, porque sua mãe faleceu; mas os primos nunca o aceitaram como irmão, ele cresceu como um peixe fora d'água - um dia experimentou um baseado, depois cheirou um pouco de coca, logo a dependência química se estabeleceu e a família o isolou completamente...
Tem aquela outra moça muito bonita, inteligente, trinta e quatro anos, que numa festa reencontrou o companheiro de colégio, aquele com quem ficara tantas vezes antes que ele fosse estudar na Austrália - e agora se sente dividida entre a possibilidade de se casarem e a perspectiva, para ela assustadora, de um compromisso...
Tem ainda aquela jovem, que, aos vinte e oito, casada e mãe de um menino de dois anos, descobriu que o marido tem o vício do sexo e diariamente transa com outras duas ou três mulheres - expulsou-o de casa, mas o quer muito e ao mesmo tempo duvida que isso seja realmente uma doença...  
Tem outra mãe de família, com quarenta e sete, que recebeu o diagnóstico de um câncer e, como sempre acontece nestes casos, sentiu o chão desaparecer sob seus pés - marido e filhos têm esperança de que ela alcance a cura, mas também têm medo e não sabem como agir em casa...
Tem o rapaz de vinte e nove, homossexual, que vive há três anos com um companheiro, eles fazem planos de morar no Canadá (onde sua opção sexual é vista muito naturalmente), trabalham duro juntando recursos, estudam inglês e francês para conseguirem um visto de permanência e, de repente, ele vê o namorado abraçado a outro...
Tem também o rapaz, que aos trinta e dois começou a sentir fraqueza, moleza, e dificuldade para articular as palavras; passou por tantos médicos e foi tratado de tantas formas, sem melhorar, que já estava atordoado - até encontrar um neurologista que conhecesse o seu mal, miastenia gravis...
Tem o profissional liberal, trinta e oito anos, saindo do segundo casamento e que, embora bem qualificado em sua profissão, não se enquadra em nenhuma empresa, é tão competitivo que nenhum chefe o suporta (e vice versa)...
Tem aquela senhora, viúva, aos cinquenta e quatro, que tem uma filha excepcional de quem vem cuidando há trinta anos - agora percebe que um dia a deixará, queira ou não, e que não tem vivido a própria vida em todos esses anos - ela quer viver, mas o que é isso?...
Tem a tradutora, segunda numa família de quatro filhas, que, aos vinte e nove anos, é virgem e não consegue se aproximar de rapazes, embora já tenha sido paquerada mais de uma vez; também não se interessa sexualmente por mulheres, apenas prefere viver só...
E tem, de outro lado, a adolescente que está grávida aos catorze e não quer aceitar o acolhimento dos pais, que, mesmo contrariados de início e sendo de vida simples, não poupam esforços para ampará-la e ao bebê - ela prefere ir embora com o pai da criança, ainda que tenham de viver numa favela, porque não quer interferências em sua vida... 


São centenas de histórias com as quais tenho tido contato, como terapeuta. O motivo que traz as pessoas ao meu consultório ainda pode ser, para mim, uma nova situação - mas o tema principal com o qual trabalho gira sempre em torno de emoções e relações afetivas, ainda que das pessoas consigo mesmas - aliás, estas são tão importantes...


Também são muitas as pessoas que não podem chegar a um consultório psicológico. Por isso decidi abrir, aqui, este espaço. Raramente tenho receitas prontas (dizer nunca seria mentira), mas sei ajudar pessoas a buscarem caminhos saudáveis e, entre os leitores, certamente há muitos que podem colaborar, com seus comentários, nesta tentativa. Estarei aqui, disponível para os que precisarem ou desejarem trocar suas figurinhas com a gente.

Desde já, agradeço a confiança.

Antonieta. 

7 comentários:

Anônimo disse...

Antonieta, Parabéns pela iniciativa deste blog. Realmente é ilucidador aprender com experiências e a partir delas extrairmos o melhor para as nossas vidas. Sucesso amiga. Um grande abraço Regina - Brasília/DF

Anônimo disse...

Antonieta, Mto legal a sua idéia! Nada melhor do que a vida real para aprender!!!
Mto sucesso!
Bjus
Vera.

Janaina disse...

Você realmente é genial. Primeiro pela idéia de tornar possível e mais acessível o auxílio a muitas pessoas e segundo pelo espírito de solidariedade, que hoje em dia é tão difícil... Fazer o bem não importa a quem!!! Sou muito orgulhosa de você!!! Quero ser assim quando "crescer". PARABÉNS!!! Janaina

Ma. Antonieta de Castro Sá disse...

Agradeço às pessoas (queridas) que aqui deixaram seu estímulo!
Esclareço que a proposta não é de "eu" fazer um painel de histórias reais, para os leitores encontrarem exemplos que os enriqueçam. Pretendo postar "comentários" sobre relações afetivas de todas as espécies possíveis, mas, principalmente, à partir das solicitações e comentários que "os membros e participantes anônimos postarem".
Quem deve trazer histórias sobre as quais escreveremos, são os participantes do blog. Eventualmente poderei narrar algo, também, à título de ilustração.
Nesta 1a. postagem, trouxe apenas exemplos de situações que poderemos comentar.

Assim, este blog será tanto melhor e mais útil, quanto mais pessoas dele participarem.

Sobre a solidariedade, é um norte em minha vida, exatamente por estar rareando no mundo atual. Mas isso não me faz genial, apenas humana. Agradeço com idêntico carinho, o carinho que estou recebendo.

Voltem sempre e ajudem a divulgar este nosso espaço de diálogo sobre o que tanto importa e pode ser tão difícil, por vezes: as relações afetivas.

Meu abração,

Antonieta.

Nalda Borges disse...

Olá minha linda!

Adorei esta iniciativa.
Muitas vezes o caminho até oconsultório é penoso. Entre todos os aspectos; o que mais pesa é o preconceito.
Viver em uma sociedade em que a saúde é apenas a ausencia de doença, procurar terapia não uma posição de conforto para a maioria.
Penso que este processo, a caminhada com um terapeuta, na busca do conhecimento de limitações e pontencialidades, é um privilégio.
Conhecer-se é um fator que todas pessoas "deveriam" ter direito.
Parabéns pela iniciativa.
Quero que seu blog seja amplamente visitado.
Um abraço fraternal.

Ma. Antonieta de Castro Sá disse...

Olá, Nalda.
Seu comentário sobre preconceitos traz uma boa idéia p/ minha próxima postagem. Vou cuidar disso amanhã, pque já é madrugada e estou cansada. Agradeço sua participação e o incentivo. Abração. Antonieta.

Anônimo disse...

Oi amiga...
Realmente falar em terapia em algumas classes sociais soa como uma afronta... Mas gostaria de ler algo acerca de alguem que sofreu ou sofre do síndrome de stocolmo??? (é assim que escreve?) aquela que a vítima ama seu algoz! Acho que sofri uma situação assim e hoje tenho umas crises que só Deus para me aliviar. Um grande beijo.
Cristina Reis

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